Woody Allen, mais conhecido como o judeu-neurótico de Manhattan, está, desde 2005, rodando seus filmes no Velho Mundo. É de se aplaudir a fome de bola que tem o nosso diretor, haja vista que foram filmados, até agora, nada menos que sete filmes. Desses, três são fantásticos. Mais do que isso, seu próximo filme já tem nome, atores principais e local de filmagem: The Bop Decameron, com Penélope Cruz, Alec Baldwin e Roberto Benigni será rodado em Roma.
O primeiro da série europeia é Match Point (2005) e é também o meu preferido. Com uma trama muito bem arquitetada, uma trilha sonora esplêndida e atores como Jonathan Rhys Meyers e a belíssima Scarlett Johansson, o primeiro filme europeu de Allen é surpreendente. A história do ambicioso jovem irlandês e seu envolvimento com o puro malte da aristocracia britânica dão uma ideia do que se pode esperar desse filme. Vale lembrar que o próprio diretor, em entrevista recente, citou Match Point e A Rosa Púrpura do Cairo como os seus únicos filmes em que ele não via necessidade de alteração.
A segunda filmagem em solo europeu eu ainda não vi: Scoop – O Grande Furo que também é protagonizado por Scarlett Johansson. Em 2007, Woody Allen lança O sonho de Cassandra que desperta lá seu interesse, mas não é uma grande obra. A trama é um tanto comum, assim como a filmagem.
A volta por cima no filme seguinte é arrebatadora: Vicky Cristina Barcelona é um sucesso e não é para menos: um elenco que é quase uma constelação: Scarlett Johansson (veja só!), o charme latino de Penélope Cruz e o excelente ator Javier Bardem em um meio loucamente artístico transformam a tranquila viagem de duas americanas – uma que achava que sabia o que queria e a outra que sabia o que não queria, em uma excitante, para falar o mínimo, viagem por Barcelona.
Depois de quatro filmes fora, a única interrupção: Woody Allen volta à Nova York e filma uma brilhante comédia. Tudo Pode Dar Certo é uma comédia que retoma os primeiros filmes do diretor: neurose incorrigível e um humor pessimista de alto nível. A história do encontro entre o hilariante e altamente convencido físico Boris Yellnikoff e uma caricata moça estadunidense é risada na certa.
Interessa também a complementação de uma “teoria” que o diretor levanta na primeira cena de Match Point e encerra na cena final de Tudo Pode Dar Certo: a teoria de que a sorte domina – e sempre dominou as nossas vidas. Segue a primeira fala daquele e a última deste filme: [Narrador] “The man who said "I'd rather be lucky than good" saw deeply into life. People are afraid to face how great a part of life is dependent on luck. It's scary to think so much is out of one's control. There are moments in a match when the ball hits the top of the net and for a split second it can either go forward or fall back. With a little luck it goes forward and you win. Or maybe it doesn't and you lose.” --- [Boris] “A bigger part of your existence is luck than you'd like to admit. Christ, you know the odds of your father's one sperm from the billions, finding the single egg that made you? Don't think about it, you'll have a panic attack.”
No ano passado, Woody Allen lançou Você Vai Conhecer O Homem Dos Seus Sonhos que é uma comédia romântica rodada em Londres e que diverte pelas boas sacadas do diretor. Todavia, Allen não estava na sua melhor forma. Comédia por comédia, Tudo Pode Dar Certo é muito melhor.
Enfim, neste ano, Woody Allen presta uma homenagem à capital francesa em Meia noite em Paris. O deslumbramento da personagem principal, o roteirista e frustrado escritor Gil Pender, por Paris transforma esse filme mágico em um tour pelos anos 20 e seus vários artistas como Picasso, Hemingway e Fitzgerald, além de uma pitadinha de Belle Époque. Vale a pena conferir esse belo filme que está em cartaz nos cinemas e, para quem não tiver o que fazer no feriado, ver e rever esses e outros filmes de Woody Allen.