domingo, 27 de novembro de 2011

O racismo e as pichações nos corredores da PUC

Muito se disse e nada se explicou sobre o caso do racismo e das pichações nas rampas da PUC. Vamos ao caso: um estudante do curso de Serviço Social, negro e trabalhador, estava dormindo sem camisa em uma sala de aula enquanto esperava o começo de suas aulas. Por trabalhar de madrugada, estudar à noite e morar muito longe - drama de boa parte dos moradores da região metropolitana -, aproveita esse hiato para descansar na própria Faculdade. O estudante, que já havia em diversas oportunidades sido abordado e intimado a responder quem era, sua sala e período de estudo, foi novamente abordado e se recusou a responder a tais questões. Por negar nova resposta, foi expulso. Vale lembrar que a PUC-SP é uma universidade aberta, e que não exige de ninguém tais informações.

A discriminação é clara. Basta imaginar que se o rapaz fosse branco, pediriam, no máximo, para ele colocar a camiseta. Devemos, portanto, condenar os seguranças que cometeram esse ato? Ou devemos nos aprofundar mais e entender os problemas da segurança ostensiva e pouco preparada que nós temos no nosso campus? Que essa atitude é a mesma que levou um estudante de Ciências Sociais da USP (também negro) a ser abordado mais de quatro vezes desde que o convênio PM-USP se estabeleceu naquela universidade?
            
Pois bem, depois do ocorrido com o rapaz na PUC, o Centro Acadêmico de Serviço Social, com o apoio da APROPUC, organizou o Ato contra o Racismo na PUC-SP. Após o término do ato, estudantes revoltados com o lamentável acontecido com o estudante de serviço social picharam as rampas do Prédio Novo e o interior do Prédio Velho. Essa questão, entretanto, não é, nem de perto, o fato mais importante desse caso, embora as generalizações ali contidas tenham constituído um grave erro: a comunidade puquiana inteira foi tachada de racista, mas o ato a ser condenado é a discriminação por parte da gestão comunitária da nossa Universidade. Não é de hoje que manifestações como essa não conseguem transmitir o que objetivam e, mais do que isso, fazem com que boa parte dos estudantes se oponham à maneira como elas ocorrem, por mais que concordem com seu conteúdo, deixando-o em segundo plano.

Sim, as pichações conseguiram deslocar uma discussão de profunda importância, como é a discussão do racismo, para segundo plano, mas não podemos esquecer que o dano que a discriminação causa à sociedade e à universidade sempre será muito maior que o da "depredação" da parede. Será que estamos voltando nossa indignação à direção correta?

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